Política:
O mercado acompanhou à distância e desconfortável o briefing de Bolsonaro com cerca de 70 embaixadores atacando as urnas eletrônicas e denunciando supostas falhas no sistema eleitoral.
Felizmente, as acusações não trouxeram nada de novo, e a grande maioria foi feita sem provas, ao contrário do que havia prometido… Bem parecido com que o Trump fez nos EUA. Ontem essas acusações tiveram uma maior repercussão no cenário internacional, todas bem negativas à Bolsonaro.
No Centrão, Arthur Lira fica calado em meio às declarações do presidente e de todas as outras lideranças, que não presentem seguir ao lado de Bolsonaro caso ele decida questionar o resultado eleitoral, tampouco apoiariam uma tentativa de golpe, segundo a jornalista Renata Agostini da CNN.
Mas também, jamais farão alguma crítica pública ao presidente, pois seria arriscar uma fissura na relação com o principal cabo eleitoral desses partidos em outubro.
A aprovação da PEC dos Auxílios já começou a mexer no tabuleiro político. O governo encontrou uma forma de aumentar a renda da população de forma temporária e, apesar do efeito sobre o voto ser moderado, deve aumentar a popularidade do Bolsonaro.
E claro, os adversários políticos não ficarão parados. A promulgação da PEC abre espaço para propostas como “manter o auxílio brasil em R$600 permanentemente”.
Outros pontos também podem gerar debate, por exemplo:
Nos últimos dias, a ala militar do governo dá sinais de querer ter mais participação no processo eleitoral. Como os candidatos vão reagir a isso não está muito claro.
Outra possibilidade… Lula e Bolsonaro já deram declarações insinuando que podem não participar dos debates eleitorais, o que é uma tentativa de se blindar contra críticas e questões que possam prejudicar a votação, e uma possibilidade remota de terceira via perderia a chance de se contrapor à polarização.
Já na Petrobras, pelo fato de o Petróleo ter ficado alguns dias operando abaixo dos 100 dólares, mesmo com a alta de ontem, acaba sinalizando uma acomodação no preço. Então a Petrobras reduziu ontem o preço da gasolina, pela primeira vez no ano.
A redução de 4,9%, cerca de 20 centavos por litro coincide com a chegada de Caio Paes de Andrade à cúpula da empresa, que tomou posse há apenas 3 semanas e que está lá para cumprir a missão de segurar os preços até as eleições.
Apesar das pressões de Bolsonaro, a empresa afirmou que o reajuste foi técnico.
Economia:
Os títulos do tesouro começaram a se alongar essa semana com uma mudança de estratégia para garantir a rolagem com custo menor em meio à aversão pelo risco e elevação das taxas dos títulos atrelados à inflação.
Foram ofertados títulos NTN-B (IPCA+ com juros semestrais) para 2027, 2035 e 2060, antes era 2025,2032 e 2045, todos com juros mais altos do que nas semanas anteriores.
E ontem, o fintwitt bombou falando só de juros… E quando um mercado começa a ficar tão estranho, que chama a atenção, deve-se ficar atento, pois a estranheza pode estar chegando ao fim.
O mercado está pressionando o BC em uma direção e fala em levar os juros até 14,5%, que é normal no mercado de juros: quanto mais tem, mais quer. Até porque, nesse tipo de cenário, as boas notícias são ignoradas e as más notícias são amplificadas e quando isso acontece a gente passar a ter uma disfunção nos mercados.
A renda variável fica amassada e a renda fixa muito esticada, e se você souber se defender nesse momento e aproveitar as várias oportunidades que surgem na ineficiência do mercado, então é possível fazer excelentes investimentos.
Já o PIB de 2022 volta a ser revisto pelas casas de análise… A média das projeções passou de 0,5% para 1,5% e a inflação é revista para baixo, uma vez que a queda na alíquota do ICMS e a redução de 5% da gasolina, têm efeito de mais de 1,5% no IPCA.
A atividade econômica surpreendeu no primeiro semestre do ano, com os dados do IBGE mostrando os principais setores da economia crescendo acima do esperado: indústria, comércio e serviços.
As principais razões dessa recuperação são:
- Reabertura da economia, principalmente dos serviços;
- Recuperação do mercado de trabalho, que registra desemprego abaixo de 10%, algo que não se via desde 2015;
- Incentivos fiscais como, saque extraordinário do FGTS, antecipação do 13º para algumas classes, etc
Porém, o segundo semestre ainda é incerto. Os juros altos e a inflação devem começar a pesar na economia, mas a PEC dos benefícios pode pesar a favor da atividade.
Certeza é que em 2023 não teremos um PIB forte, pois o peso dos juros e da inflação continuarão presentes, enquanto os benefícios, por enquanto, têm prazo de validade para dez/2022.
Internacional:
Iniciativa da China para enfrentar a crise imobiliária sustentou bem a primeira parte do pregão se segunda-feira, porém, uma notícia negativa da Apple virou NY e esvaziou a alta do Ibovespa no início da semana, puxando o dólar e os juros futuros.
Recentemente, Microsoft e Alphabet sinalizaram movimentações nesse sentido.
Com a desaceleração da economia chinesa e a baixa na cotação do minério de ferro a VALE informou ontem queda anualizada de 1,2% na produção da commoditie no 2º TRI.
A ADR da VALE subiu no after-hours em Nova Iorque, apesar de a empresa ter reduzido o guidance/projeções para 2022. Com isso, o Citi Group passou a projetar uma queda de 9% no EBITDA do trimestre.
No Petróleo, a bloomberg reportou que a Gazprom, empresa Russa, reiniciará as exportações pelo gasoduto Nord Stream 1. Mas Putin alertou que mais uma turbina do gasoduto será fechada para manutenção e que se a turbina que foi enviada ao Canadá não for devolvida no prazo correto, o fluxo de gás para a Alemanha/Europa cairá ainda mais.
A temporada de balanços da empresas americanas continua forte. As bolsas em Wall Street decolaram ontem:
Dow Jones: +2,43%
S&P +2,76%
E Nasdaq, +3,11% puxada pela alta da Netflix de mais de 7%.
Ainda nos EUA, desde o início do ano a gente têm destacado que a forte alta da inflação desencadeou um dos apertos monetários mais significativos das últimas décadas pelo FED.
A expectativa é que os juros fique entre 3% e 4% até o fim do ano… isso fez os mercados americanos perderem cerca de 20% de valor de mercado e gerou receios de uma recessão em 2023.
Um dos mercados mais importantes do país é o Imobiliário, que representa quase 18% do PIB e voltou às manchetes com receios de bolha. O motivo dessa desconfiança são as semelhanças de alguns indicadores atuais com a crise de 2008 e, principalmente do preço médio dos imóveis, que disparou no pós-pandemia.
No auge da crise de 2008 o índice de preços dos imóveis girava em torno de 200 pontos e atualmente está em 300.
Porém, a crise de 2008 não foi causada somente pela alta dos preços, mas também pelo perfil de risco dos ativos financeiros. E esse é um cenário que não existe hoje!
A alta dos preços não está atrelada à concessão de créditos de baixa qualidade e os bancos comerciais não possuem exposição alavancada na mesma proporção, mas o ritmo de expansão da economia com taxas de desemprego em mínimas históricas de 3,5% impulsionou o mercado de imóveis.
As restrições nas cadeias de suprimento, com elevação dos preços das matérias primas e uma demanda elevada também por causa dos auxílios, trouxe os preços para cima junto com os juros dos financiamentos.
E isso sim pode ser um problema, pois uma desaceleração desse setor em 2023 pode aumentar o efeito recessão dos EUA.
Bovespa:
O mercado começou a ficar preocupado com o volume financeiro negociado recentemente na bolsa e os estrangeiros seguem retirando dólares da B3, e sem os gringos, a bolsa não anda em um ritmo de alta acelerada.
Ontem, o IBOV subiu forte, 1,37%, e retomou os 98 mil pontos, mas manteve o giro bem fraco, em menos de 19 bilhões de reais.
A pesquisa mensal do Bank of America, apontou uma piora nas projeções para o IBOV esse ano… Antes, as projeções ficaram entre 110 e 130 mil pontos. Agora, ficam entre 95 mil e 110 mil pontos.
De qualquer forma, a alta de ontem refletiu o mercado de NY… O petróleo subiu forte essa semana, 5% na segunda-feira e mais 1,02% ontem a 107,35 dólares o barril, e fez a Petrobras subir junto com 4,36% de alta na semana.
A VALE operou em alta leve, mas as outras siderúrgicas compensaram e subiram forte, ajudando na alta do IBOV.
Dólar
O dólar, apesar ter operado em queda boa aprte do pregão, seguindo o mercado internacional, a moeda quase virou e fechou estável em queda de 0,1% cotada a 4,42.
Mesmo com o alívio externo e com a alta do petróleo, que é gatilho para o real se apreciar, o dólar não cedeu, muito em função do cenário fiscal interno.
Ontem o DXY, índice que mede a força do dólar em relação a outras moedas de países desenvolvidos, caiu 0,64% e fez o Euro se apreciar novamente, com a especulação de um aperto nos juros maior que o esperado… De 0,25% para 0,50%.
Essa especulação na Europa vem de uma possibilidade na queda da oferta do gás natural, pressionando o preço e fazendo a inflação subir acima do esperado.
O que a gente tem percebido é que o dólar está tão sensível quanto os mercados acionários, e qualquer novidade faz toda a cadeia de produtos variáveis oscilar.