Na última semana não se fala de outra coisa além da novela da Americanas e a fraude contábil. Ainda muito do que se fala é especulação, mas já está afetando nossos investimentos tanto na parte de renda variável como Renda Fixa. Sim, renda fixa! E isso tem sido uma bomba no mercado para os investidores.
Entendendo o caso da Americanas
Sérgio Rial, foi anunciado em agosto de 2022 como CEO da Americanas e sua gestão começou agora, no primeiro dia útil de 2023. Com ampla experiência bancária (vindo do Santander) achou alguns números estranhos no balaço e pediu explicações. No dia 11 de janeiro, quarta, ele anunciou a renúncia da empresa e no fato relevante veio o motivo: Suspeita de fraude nos balanços da empresa, que segundo ele vinha ocorrendo a pelo menos 5 anos. A princípio o valor exposto por ele é de R$20 bilhões, mas agora se fala em R$40 bilhões. O número certo não é fácil de se entender ainda. Não é possível afirmar que a empresa terá que pagar esse valor, e muito menos que o dinheiro simplesmente sumiu. Ainda é tudo muito incerto. O que Rial fez, foi simplesmente trazer o problema para que o mercado possa cobrar uma solução.
Um comitê interno e externo irão investigar o caso, apurar as falhas e checar nos números reais, inclusive se a empresa tem ou não prejuízo, ou se é apenas um problema de ajuste de contas no balaço.
Vamos ser honestos, essa história ainda vai render alguns meses. Não é um trabalho fácil de se levantar e apurar. Serão revisto os resultados de balanços de muitos anos atrás, que inclusive, poderão ser republicados.
Era previsível?
Essa talvez seja a grande pergunta que o investidor está se fazendo. Se uma empresa desse porte, com auditoria externa, alto grau de investimento falha dessa forma, será que não seria possível prever o problema?
A resposta não é tão simples assim. Até onde se sabe, a equipe contábil da Americanas vinha fraudando, ou fazendo interpretação equivocada a muito tempo, um pouco por vez. Não podemos falar que o dinheiro sumiu ou simplesmente mudou de conta contábil no balanço, como vou explicar logo abaixo.
Não era para a empresa de auditoria ter identificado isso? Sim, é para isso que elas trabalham. Para dar veracidade as informações, mas se o que ex-CEO falou, for de fato verdade, muita gente errou pelo caminho, de forma gradativa e a muito tempo, dificultando descobrir o problema.
Entendendo a fraude contábil
Para tirarmos melhores conclusões precisamos entender o caso. Uma empresa de Varejo vende parcelado e precisa comprar à vista para ter desconto, isso gera um grande problema de caixa. Na prática falta dinheiro para pagar o fornecedor, então é comum a empresa, no caso Americanas, negociar no banco para que eles paguem o fornecedor e assim a Americanas pagará o banco. Essa operação chama RISCO SACADO e é mais comum do que parece.
O banco para se organizar e cobrar um valor de juros adequado ao risco da empresa, faz uma avaliação de seu balanço e uma das métricas, é quanto ela deve no sistema financeiro.
A empresa pode ter duas forma de se financiar. Ou deve o fornecedor ou ao banco. O mercado entende que dever o fornecedor é melhor, porque uma vez que ela o deve, ou tem o produto no estoque ou tem a receita de venda. Já quando se deve ao sistema financeiro, o risco é um pouco mais alto pois não está necessariamente ligado a custo da operação. Pode ser uma dívida para pagar despesas, investimento entre outros.
Um banco antes de emprestar dinheiro a empresa, olha com muito critério essa parte do balanço (dívida ligada ao sistema financeiro) e coloca travas no contrato. Exemplo. Hoje você deve 30% do valor da empresa no sistema financeiro, por isso vou te emprestar dinheiro por 3 anos e baseado no seu risco, vou te cobrar um juros de X % a.a. Agora, se nesse meio tempo, sua dívida subir para 40% vou encerrar o contrato e quero liquidar nossa dívida de forma antecipada.
O que o ex-CEO disse é que enquanto a empresa devia ao banco, lançava contabilmente como conta fornecedor. Na prática, tudo é dívida, mas agora você entende que é uma dívida diferente. Com essa medida, o nível de alavancagem (dívida ao banco) aumenta consideravelmente fazendo que os vários credores queiram executar a dívida agora. Claramente a Americanas não teria dinheiro em caixa disponível para fazer isso, o que a levaria a falência. Para equilibrar esses pagamentos ela deve pedir Recuperação Judicial passando a gestão da empresa para seus credores, que tem como objetivo estabilizar a empresa e pagar o máximo de devedores possível.
A Americanas tinha uma das melhores notas de crédito do mercado, AA+ sendo a próxima nota, um triple A, a nota suprema. Por isso muitos fundos de Crédito Privado de High Grade, ou seja, de crédito de primeira linha sofreu com essa notícia, que ainda é totalmente incerta.
Porque meu fundo de Renda Fixa, sofreu oscilação?
Os títulos de crédito são negociados o tempo todo no mercado, mas muitas vezes não são acessíveis de forma direta para investidor pessoa física, ficando mais limitado a fundos de gestão de crédito. Como há muita incerteza nesse momento na Americanas ninguém quer comprar seus títulos, fazendo que o preço de mercado caia. Os fundos, estão ajustando suas cotas com essa “perda momentânea”. Isso é importante para dar transparência para os investidores e equilibrar o saldo do fundo com o valor das cotas.
Ainda não dá para saber qual o real impacto no resultado da Americanas, muito menos qual o valor correto dos títulos, se serão ou não descontados no futuro, tudo ainda não passa de especulação, teremos que aguardar o desenrolar das apurações para termos dados concretos.
Conclusão
O que aconteceu com Americanas é uma fatalidade que não gostamos de ver no mercado. Um esquema fraudulento de balanço que começou pequeno, se tornou grande ao ponto de ninguém saber exatamente seu tamanho. É um cenário totalmente imprevisível e impossível de se prevenir. Mesmo na renda fixa, corremos um pouco de risco, mas bem menor do que a renda variável, por isso a importância de investir em bons fundos que fazem a gestão e avaliação das empresas e diversificam seus investimentos.
Estamos conversando com todos os fundos de investimento que nossos clientes tem capital aplicado. A maior exposição até o momento, é de 2% do fundo com títulos da Americanas. Se considerar que esses títulos perderam 50% de valor do mercado, a cota do fundo deverá cair 1% no mês, zerando assim o lucro dos demais 98% aplicados. É possível imaginar que no pior cenário, em janeiro, teremos um mês sem ganho de capital no fundo com maior exposição a Americanas. Vale ressaltar que não é possível afirmar o que vem pela frente. Empresa não pagar seus credores, até como o problema contábil ser menor do que o precificado.
Aqui na Hunter vamos continuar monitorando e trazendo novidades sobre o caso Americanas. Converse com seu assessor de investimentos.