Política:
O senador Angelo Coronel (PSD-BA), disso ontem que não vai acelerar a votação da reforma do IR, justamente de onde o governo pretende retirar os recursos para o Bolsa Família turbinado de R$300.
O problema é que o tempo está acabando e com isso cresce a conversa de prorrogação do auxílio emergencial, que ficaria fora do teto de gastos do governo.
Arthur Lira continua defendendo o governo e disse que todos os países manterão programas sociais no pós-pandemia, pois as pessoas não podem ser abandonadas “à mingua”. Ao mesmo tempo, defendeu a responsabilidade fiscal, afirmando que não vão fazer programa social fora do teto e prometeu acelerar a PEC dos precatórios para a semana que vem.
E aí vale ressaltar que, o discurso é bonito, chama a atenção, é fácil de concordar. Porém, pra fazer isso precisa de dinheiro e não só de boa vontade travestida de interesses pessoais. Sabendo disso, Lira se saiu bem com esse pronunciamento.
O pior é que nós temos muitos aliados do governo torcendo pelo auxílio fora do teto de gastos , porque é a forma mais fácil de abrir espaço para o aumento das emendas parlamentares. Aquelas trocas de favores entre os políticos: dê-me dinheiro para fazer obras públicas na minha cidade que eu apoio a sua candidatura.
Petrobras
Bolsonaro ontem, mais uma vez falou mais do que devia. Horas depois de falar sobre “melhorar ou diminuir” o preço dos combustíveis, obrigou a Petrobras a convocar uma coletiva às pressas para negar mudanças na sua política de preços. Em conversa no cercadinho o presidente antecipou que “vai ter reajuste dos preços daqui a pouco e que não pode fazer milagre e nem falar para não aumentar”
Disse ainda que não manda na Petrobras e não por interferir e reconheceu que aquela proposta de dar um botijão de gás a cada dois meses para os beneficiários do Bolsa Família pode encontrar empecilhos na Estatal. Com isso, o presidente que já pressiona os governadores para uma diminuição do ICMS sobre os combustíveis afirmou que Roraima e Rondônia devem zerar o imposto cobrado sobre o gás de cozinha nos próximos meses.
A escalada dos preços dos combustíveis nos últimos meses pressiona a inflação para cima e dificulta a vida do RCN. Bolsonaro ainda diz que o aumento dos juros não pode ser o único remédio contra a inflação e que confia na atuação do BC.
Nesse ponto eu concordo muito com o Bolsonaro. Existem diversas ferramentas que o BC pode utilizar para conter um aumento inflacionário sem ser aumentando os juros: uma das formas é o leilão de dólar, como fez ontem; uma outra forma seria aumentar os compulsórios dos bancos, diminuindo a base monetária disponível para crédito; pode também aumentar o redesconto que é o juros que o BC cobra para empréstimos aos Bancos, o que desestimula o crédito de forma indiscriminada.
Economia:
Inflação segue crescente em 2021 e as estimativas para o PIB de 2022 reduzem cada vez mais.
O banco central adiantou em dois meses a ajuda aos bancos, dando liquidez de dólar com Swaps cambiais adicionais, ação que é vista com certa desconfiança pelo mercado. Normalmente esse tipo de suporte vem no final do ano, em novembro, para o overhedge dos bancos. Porém, se o BC se adiantou tanto, é porque provavelmente enxerga que o choque na inflação dure mais tempo do que ele imaginava.
Outra hipótese é: se o BC bate mais forte no dólar, então a inflação se segura, e com isso não é necessário aumentar tanto a taxa de juros quanto o mercado quer.
Uma outra vertente de economistas ainda acha que o BC não consegue mais controlar a inflação e está condenando o país a uma estagflação. Que é o aumento inflacionário sem crescimento de PIB, o pior cenário econômico possível em um país.
Ou seja, o mercado não vai dar trégua pro BC e vai continuar pressionando para um aumento nos juros e aumento na oferta de dólar. A ata do COPOM de hoje vai definir o humor do mercado.
No comunicado, o COPOM sinalizou que pretende manter o ritmo de elevação da Selic em 1,00 ponto percentual em outubro, ou seja, 7,25% já estão contratados para o mês que vem. O que o mercado espera ver escrito é que o BC elevará os juros até onde for necessário para conter a inflação. Roberto Campos Neto, presidente do BC, já disse isso em algumas lives ao mercado, mas não está escrito em lugar nenhum ainda.
Nessa sinuca de bico entre controlar a inflação com o aumento do juros, mas não sacrificar o crescimento da economia subindo os juros um pouco, o BC vai testando as duas alternativas. Sem muita saída, os juros futuros subiram ontem, tanto na curva curta como na longa. Com o décimo aumento consecutivo no IPCA as projeções para 2022 subiram e as apostas para o PIB foram de queda.
Internacional:
No final da tarde de ontem, o FED antecipou o discurso que Powell fará hoje no Senado, e ele deve continuar preparando o espírito do mercado para o anúncio da retirada dos estímulos antes do final do ano. Praticamente todo mundo já sabe o que ele vai falar:
- Mercado de trabalho está melhorando e que o controle da pandemia favorece a recuperação do emprego;
- Inflação deve permanecer alta nos próximos meses, antes de começar a retroceder em direção à meta de longo prazo estabelecida em 2%
A Yellen também irá se pronunciar e deve falar que os EUA podem entrar em default pela primeira vez na história e enfrentar uma crise financeira e recessão econômica se o teto da dívida não for elevado pelo Congresso. Ontem, Biden sofreu uma derrota para os republicanos, que bloquearam o projeto de financiamento e da suspensão do teto da dívida.
Com tudo isso, os juros futuros subiram lá fora o que fez as ações de tecnologia caírem, Amazon, Apple, microsoft e Google fecharam no negativo.
Já as preocupações com a Evergrande ficaram em Stand-by e não interferiu em nenhum mercado ontem.
O petróleo subiu ontem mais uma vez, impulsionado pela avaliação de que o efeito das restrições de oferta da commoditie pela passagem do furacão Ida nos EUA, pode demorar meses para desaparecer. Ontem foi o 5º pregão de alta consecutiva.
Bovespa:
A bolsa viveu um pico de estresse ontem com essas questões da Petrobrás, mas o tom amigávl da estatal deu uma acalmada nos ânimos.
Joaquim Silva e Luna, presidente da Petro, deu garantia de que não há nenhuma mudança na política de preços e reconheceu que a alta cotação do Petróleo indica a necessidade de algum movimento de reajuste.
E porque o mercado tem tanto medo de interferência na Petro? Pq a gente vive um momento de inflação elevada e isso causa um receio de que o governo possa tabelar preços o que seria péssimo para toda a sociedade.
Com esse alívio de ingerência e com a alta do petróleo Brnte de 1,93%,, Petro subiu ontem 0,89% PN e 1,56% ON e jogou o IBOV para cima, fechando aos 113.583 pontos (0,27% de alta) com um volume de 30,5 bilhões.
Vale
Já a VALE ontem, mesmo com um salto de 7% na cotação do minério, sofreu instabilidade com a notícia de que 39 funcionários estão presos no subsolo da mina Totten, em Ontário no Canadá desde domingo.
Os papeis sofreram uma súbita piora e chegaram a cir 1,50% no auge da tensão, mas engatou uma recuperação e fechou em alta de 1,43% a R$78,80.
Bancos
Os bancos subiram em bloco com as expectativas de alta da Selic.
Bradesco: 3,01%
Itaú: 2,61%
Santander: 3,87%
Frigoríficos
Liderando as altas de ontem, temos BRF e Marfrig. A recuperação é favorecida pela decisão do Cade de aprovar a aquisição de quase 32% das ações da BRF pela Marfrig.
Dólar
Ontem o mercado ensaiou uma queda no dólar, chegou à mínima de 5,30, mas mesmo com uma oferta de 700 milhões de dólares em SWAP, o dólar foi pressionado para cima e fechou com alta de 0,65% aos R$5,37.
Os dois leilões semanais anunciados pelo BC até o fim do ano devem atender à demanda do Overhedge, estimada em 18 milhões, mas não é só isso que pressiona o dólar para cima:
O Dólar sobe em função:
- Do overhedge;
- Ambiente desfavorável aos emergentes com os juros dos Treasuries subindo e o dólar forte na contagem regressiva do tapering nos EUA, o que também aumenta a volatilidade do dólar, sendo bem ruim pro B;
- Exportadores evitando internalizar recursos com a perspectiva de desvalorização cambial. Cerca de 46 bilhões não forma internalizados;
- Não há nada resolvido ainda na PEC dos precatórios e os apelas públicos de Guedes não caem muito bem;
- O relatório da reforma do IR no Senado também está cheio de resistência;