Café Econômico

O membro fantasma do tripé macroeconômico

Uma das pernas do tripé macroeconômico brasileiro pode não existir no final das contas.

Economia:

Ontem, dados positivos das contas públicas somaram-se ao otimismo externo para projetar um quadro muito favorável aos negócios, o governo fechou o mês de Junho com superávit em R$14,4 bilhões, o maior já registrado no mês.

Soma-se a isso, os dividendos da Petrobras, há uma possibilidade real de superávit primário no final do ano.

Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil/Agência O Globo

O governo receberá mais de R$25 bilhões de reais em dividendos somente da Petrobras, e a receita total com dividendos pode chegar a mais de R$100 bilhões em 2022.

A última vez que tivemos um superávit primário positivo foi em 2013, e olha que essa é uma das pernas do tripé macroeconômico.

Porém, a gente precisa compreender como esse superávit está ocorrendo. Esse saldo positivo nas contas públicas é algo totalmente passageiro, porque o superávit não veio de um controle dos gastos do governo, mas sim de duas fontes que irão diminuir no próximo ano: inflação e dividendos.

A inflação faz com que o preço dos produtos fiquem mais altos, como o imposto é uma alíquota sobre o valor dos bens, o governo arrecada mais dinheiro. Se ele não sobe, por exemplo, os gastos com previdência e com salários, então pronto, ele já está recebendo mais do que ganha. Porém a inflação é passageira! O BC aumenta os juros, os preços se acomodam, e o governo volta para déficit.

Enquanto não tivermos um superávit primário real, baseado no contingenciamento de gastos do governo, reforma administrativa para acabar com salários exorbitantes da elite do funcionalismo público e benefícios que só uma classe específica da população possui, então não podemos enxergar essa sobra de dinheiro de forma positiva.

Bom, com a festa dos dividendos da Petrobras, ficou em segundo plano o comunicado de que a empresa reduzirá o preço da gasolina pela segunda vez em menos de 10 dias… O preço nas refinarias cairá em R$0,15 para R$3,71.

Hoje às 09h tem a PNAD contínua, que deve apontar um índice de desemprego em queda, de 9,8% para 9,3% em junho.

Internacional:

Nos EUA, as ações da AMAZON dispararam 13,62% após a divulgação do resultado, mesmo com prejuízo de 2 bilhões de dólares. O ponto positivo foi a previsão de crescimento entre 13% e 17% para o 3ºTRI que animou o mercado.

Também no after-hour, as ações da APPLE subiram 2,97% depois de um balanço forte, com receita recorde, de 83 bilhões de dólares.

Tecnicamente, os EUA já estão em recessão, com dois semestres seguidos de queda do PIB. O resultado ontem foi bem ruim, e bem abaixo das expectativas… O PIB do 2º TRI ficou em -0,9%.

Diversos bancos, como já comentamos aqui no café anteriormente, projetam recessão em 2023 nos EUA.

O BC americano já virou especialista em conduzir as expectativas dos investidores, com um jogo mais político do que efetivamente econômico. Prova disso foram a alta das bolsas ontem novamente enquanto os juros caíram.

Bovespa:

I IBOV fechou positivo ontem, em 1,14%, aos 102.596 pontos, com volume de R$21,8 bilhões, um pouco amis alto do que os dados das últimas semanas. No acumulado dessa semana, a alta no IBOV é de 3,71% e no mês, +4,11%.

Petrobras superou todas as expectativas ontem, ao divulgar em seu balanço um lucro líquido de R$54,3 bilhões em apenas 1 trimestre.

Apesar do lucro de R$54 bi, ela anunciou dividendos de mais de R$87 bilhões, referentes ao lucros desse trimestre atual mais as reservas de lucros da estatal relativos a 2021.

Com isso, as ações subiram, 3,0% aqui e 3,4% com as ADRs em NY, puxando o IBOV pra cima.

Já as ações da VALE ficaram estáveis após a divulgação de resultados, alta de 0,24% aqui e queda de 1,17% em NY.

Dólar

Nos primeiros 20 dias desse mês o dólar tinha subido mais de 5%, porém, essa semana ele caiu forte com dois importantes fatores:

  1. A leitura dos investidores de um FED mais tranquilo com a inflação, ou seja, não elevaria muito os juros;
  2. O PIB do 2º TRI colocando os EUA em recessão técnica.

A sensação de que o BC pode aliviar a dose na alta dos juros nas próximas reuniões tem encorajado os investidores a reduzirem suas posições defensivas e partirem para os ativos de risco.

Nesse contexto, o real se valoriza e ajuda os investidores vendidos no dólar para o fechamento da PTAX hoje.

O dólar fechou em baixa de 1,67% ontem, a R$5,16.

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