Café Econômico

O Paradoxo das “Estatais”

Política:

O governo fez um apela às 4 grandes empresas estatais (Petrobras, BB, Caixa e BNDES), para tentar receber mais dividendos ainda este ano e conseguir ter recursos para bancar os gastos extras criados pela PEC das bondades.

O que o governo quer é que o valor do repasse seja maior e a periodicidade menor, para garantir uma parcela adicional ainda este ano ao governo. O BB já disse que não vai atender à demanda do governo, já a Caixa, BNDES e Petro ainda não se manifestaram, mas têm tudo para concordar com a demanda, uma vez que o novo presidente da Petro, Caio Mário Paes de Andrade, possui maior inclinação ao governo central.

Oficialmente, a Petrobras nega que já tenha alguma decisão tomada, mas o que se diz no mercado é que o conselho da companhia deve aprovar “tranquilamente” a antecipação dos dividendos, porque o caixa da empresa está forte. O valor deve ficar em aproximadamente R$40 bilhões e o anúncio oficial deve vir junto com o balanço na quinta-feira.

Em relação às eleições, duas pesquisas confirmam a liderança de Lula na frente do Bolsonaro, a da XP e a do BTG. Ambas apresentaram Lula com 44% das intenções de voto, enquanto Bolsonaro ficou entre 34% e 31%. Já olhando um possível segundo turno, Lula venceria por 54% a 36%.

Economia:

É grande a expectativa hoje para o IPCA-15, que se vier baixo pode aumentar as chances de uma deflação em Julho. Apenas relembrando o que falamos no café de ontem, a mediana é de uma IPCA em 0,16%, oscilando entre -0,7% e +0,7%, com grandes chances de vir negativo, refletindo o impacto da redução do ICMS sobre energia elétrica, combustíveis e telecomunicações.

É importante ficar muito claro, pessoal, que a expectativa de uma inflação mais baixa para 2022 e um PIB mais alto é reflexo de artifícios do governo para inflar esses indicadores.

Quando o ICMS for reajustado e os auxílios deixarem de existir, vamos ver um PIB mais fraco e uma inflação mais alta.

A leitura da inflação hoje é importante, pois, provavelmente os setores que sofreram influência do ICMS terão apresentado uma deflação bem interessante, mas se os preços livres, como bens industriais, serviços e alimentos, continuarem pressionados, a curva de juros pode apresentar uma alta na ponta curta.

Internacional:

Lá fora, a temporada de balanços continua firme… Além de Alphabet e Microsoft, ainda tem McDonald’s, Coca-Cola, General Motors, General Eletric, 3M e UBS… Todos divulgam seus resultados antes da abertura dos mercados, e após o fechamento, tem os resultados de VISA. Setor que tem se destacado com excelentes resultados e parcerias com os bancos, tanto Visa quanto Mastercard.

Entre os indicadores econômicos, sai por lá o índice de confiança do consumidor e de vendas de moradias, que devem piorar. Até pq os preços dos imóveis estão em máximas históricas nos EUA, inclusive, muito superiores aos preços negociados na crise do Subprime. Isso se deve a uma população com alta liquidez, vinda tanto dos auxílios quanto do baixo desemprego, e de uma cadeia de suprimentos internacional que ainda não conseguiu se estabilizar.

As bolsas ontem ficaram seu rumo definido aguardando: FED amanhã, PIB na quinta-feira e o balanço das gigantes de tecnologia.

Mesmo assim, os rumores de uma recessão tomaram mais espaço nos noticiários, principalmente com a gestora BlackRock prevendo um FED mais agressivo do que o mercado está precificando. Junto ao isso, as projeções do PIB para 2022 e 2023 foram revisadas para baixo pela S&P Global e pela Moody’s.

Na China, o governo de Pequim deve lançar um fundo imobiliário de até 44 bilhões de dólares para ajudar as incorporadoras com dificuldades na entrega dos empreendimentos. O minério de ferro repercutiu bem, subindo 1,24% no mercado internacional.

Do lado das commodities, a Ucrânia deve retomar as exportações de grãos ainda essa semana, mesmo com o ataque Russo ao porto de Odessa.

O petróleo interrompeu a sequência de quedas e se valorizou com o dólar mais fraco. O petróleo possui alguns fatores que contribuem tanto para a alta quando para a baixa das cotações. Para a alta, temos o risco de recessão nos EUA e na Europa, com queda na demanda global. Já no fator altista, temos a Rússia, que restringirá ainda mais o fluxo de gás natural do nord Strem 1 para a Europa.

A fornecimento passará de 40% para 20% da capacidade a partir de amanhã… Menos de 7 semana depois de ter reaberto parte do gasoduto após manutenção.

A estatal Gazprom informou que mais um turbina, fundamental para o abastecimento, entrará em reparos e será retirada de serviço. Putin ameaça interromper o fluxo total se o Ocidente não liberar peças de manutenção.

Dólar

Já o dólar, antes que pudesse desafiar os R$5,50, acabou desacelerando com a alta do petróleo. A queda foi de 2,35%, fechando a R$5,37.

Basicamente essa relação funciona da seguinte forma: um petróleo mais alto faz com que o preço dos produtos fiquem mais caros no mercado interno. Preços elevados pressionam o índice inflacionário, que, por sua vez, força o Banco Central a subir os juros da economia. Juros mais altos representam uma quantidade maior de capital estrangeiro entrando no país, e portanto, uma grande demanda por reais e uma grande oferta de dólares. Assim, a cotação do dólar cai.

Além das commodities, a esperança de um FED mais dovish (mais fraco, menos austero em relação aos juros), alivia a possibilidade de recessão.

A rodada de indicadores econômicos fracos nos EUA pode “sensibilizar” os dirigentes do FED a aliviar a agressividade. Essa perspectiva enfraqueceu o dólar no mundo todo ontem, e estimulou a recuperação nos preços das commodities, tendo um impacto direto nas moedas de países produtores de insumos básicos, como o Brasil.

Assim, o real saiu fortalecido nas duas pontas: queda do dólar em escala global e aumento do preço das commodities.

Além disso, ainda houve um fator adicional: Os EUA e o Reino Unido estudam revogar medidas restritivas contra exportações brasileiras relativas ao aço, que está em vigor há 5 anos.

Também, a proximidade da briga técnica da PTAX na sexta-feira, já pode estar influenciando os interesses dos vendidos em dólar.

Bovespa:

O IBOV retomou ontem o patamar dos 100 mil pontos, mas ainda com um volume bem baixo. A alta de 1,36%, aos 100.269 pontos, teve relação com o otimismo do pagamento dos dividendos da Petrobras e da Vale, que estão com uma boa geração de caixa, e também a recuperação das commodities favoreceu a bolsa ontem, pegando uma carona nos planos da China para conter a crise imobiliária.

As ações da VALE fecharam em alta de 1,85%, aos R$70,49. Já a Petrobras deu um salto de 4,32% nas ações PN e de 4,67% nas ações ON, refletindo a possível antecipação dos dividendos.

Os bancos também subiram em bloco ontem, ajudando o IBOV a se manter em patamar positivo. Outro setor que foi bem foram os frigoríficos.

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