Toda semana o Banco Central publica uma projeção do mercado de vários indicadores, um deles é a expectativa de juros. O relatório FOCUS serve como um balizador, uma publicação imparcial que consolida a expectativa do mercado, para que ele mesmo precifique o valor futuro.

Nas últimas semanas, o FOCUS vem sinalizando uma expectativa na queda dos juros, mesmo que o Banco Central não confirme oficialmente uma virada nos juros. Mas para entendermos isso, temos que voltar em um questionamento mais fundamental, o que faz a SELIC subir ou descer?
Se fizermos uma analogia simples, o juros é o antibiótico do inflação. A inflação é o principal vilão da economia, pois ela destrói o poder de compra e prejudica de forma mais intensa os mais pobres. No mercado tudo funciona em equilíbrio matemático. O dinheiro que circula deve ser igual a capacidade de produção do país. Então para 100 dinheiros, existem 100 produtos. Toda vez que o governo resolve imprimir dinheiro, precisa ter uma contraparte de produção. Por isso medidas assistencialistas, por mais necessárias que possam parecer no curto prazo, geram grande impacto inflacionário, pois não há uma contra parte de produção. Voltando ao nosso exemplo, se em uma recessão como tivemos recentemente no covid-19, onde a produção cai de 100 para 75 e o governo imprime mais dinheiro para estimular o consumo, a equação não fecha e a inflação corrige os desvios.
Após o governo ter imprimido mais moeda, temos 150 “dinheiros” e 75 produtos. Cada produto agora equivale a $2 “dinheiros” e não $1 “dinheiro” como antes.
A inflação geralmente sobe muito rápida pelo efeito psicológico que gera, ao ver tudo subindo de preço a indústria antecipa a alta que terá no insumo e sobe ainda mais os preços.
Em uma economia perfeita, o preço só sobe porque as pessoas estão com mais poder de compra do que há em oferta de produtos. Para corrigir isso, a teoria clássica econômica, sugere então aumentar os juros. Com juros mais altos, as pessoas param de consumir e consequentemente o preço dos produtos caem. Isso na prática funciona apenas quando há um equilíbrio entre produção e dinheiro. Quando o governo desequilibra essa equação, a solução acaba sendo a mesma (subir juros) mas o impacto é reverso, pois as pessoas já estão consumindo pouco passam a consumir menos ainda e as empresas diminuem as vendas, elevando o custo fixo e diminuindo margem de lucro. O resultado disso é a recessão. Empresas quebrando e inadimplência aumentando é o que estamos vendo em 2023.
Porque o juros vai cair, se as economia ainda não melhorou?
Chega em um ponto que os bancos e o próprio mercado pressionam para uma queda nos juros para evitar uma quebradeira geral. A inflação no país vem caindo a um alto custo de recessão e corte no preço dos combustíveis (que tem peso de 30% na inflação), mas sobre combustível falaremos em outro artigo. Voltando a nossa analogia médica, o paciente está recebendo alta, não porque a economia melhorou, mas porque o hospital está sem vagas e o tratamento continuará em casa.
Tendo como uma certeza que os juros vão cair, mesmo que os sinais econômicos não melhorem muito, como podemos aproveitar esse movimento para otimizar nossos lucros?
Para isso, vamos entender como funciona a curva de juros.
Já parou para pensar, como o banco consegue calcular um empréstimo de 4 anos para frente? De onde ele tira esse cálculo? Para isso, vamos abordar mais um conceito, a curva de juros.
O mercado faz conta o tempo todo, e através de suas análises e expectativas futuras, o banco consegue projetar o juros futuro para daqui 12, 24, até 360 meses para frente. Claro que quanto mais longe, mais variáveis e maior volatilidade essa taxa sofre.
Lembra do relatório FOCUS que o Banco Central divulga toda semana? Um dos objetivos dela é ajudar os bancos a terem uma visão mais próxima da média, evitando que alguns bancos coloquem taxas muito altas e outras muito baixas. Aqui vale aquela máxima de todos juntos é melhor do que um sozinho.
Essa taxa de juros é negociada na bolsa de valores, e tem cotação em tempo real, facilitando com que os bancos vejam as taxas que estão sendo negociadas (oferta e demanda) e para uma negociação acontecer, um banco tem que ofertar e alguém tem que aceitar a taxa.
O que estamos vendo agora é uma queda na curva de juros. Veja no gráfico abaixo, como era a curva a 4 semanas atrás e hoje. Viu a diferença? É exatamente essa diferença que você pode aproveitar. Acompanhe esse artigo que vou te explicar.

Primeira coisa que temos que entender é que apesar do Banco Central divulgar a taxa de juros oficial do país, não é ele quem define o juros futuro, é o próprio mercado. Precisamos quebrar esse paradigma. Se o Banco Central quiser pegar dinheiro no mercado hoje a uma taxa de 5% ao ano para 4 anos, ninguém empresta porque a curva de juros mostra um valor muito maior. O Banco Central pode pedir, mas não haverá uma contraparte para aceitar o acordo. Então na verdade não é a SELIC que ajusta a curva de juros, ela serve apenas como uma referência.
Então por que existe a taxa SELIC? Talvez esteja se fazendo essa pergunta. A taxa SELIC serve como base oficial, como uma âncora, para que os bancos também não fujam muito dela, pois o governo é o maior tomador de dinheiro emprestado da economia, então com o seu peso e volume ele acaba criando uma “âncora psicológica” criando um valor de referência que é ajustado através de várias reuniões do COPOM (Conselho Monetário) ao longo do ano.
Antes de explicar como otimizar seus lucros na curva de juros, temos um último (prometo) conceito a entender. A marcação a mercado.
É normal um investidor ter R$100.000 e ao aplicar querer saber quanto vai ter no vencimento da aplicação, mas na verdade a conta é oposta. O banco vai emitir um título de divida (CDB) que valerá R$100.000 daqui a 4 anos. A conta correta é, quanto vale esse título hoje?
Pode parecer a mesma coisa, mas essa diferença de entendimento muda tudo! Porque o valor final a receber nunca vai mudar, o que muda é quanto o título vale hoje.
Se temos um título de R$100.000 em 4 anos, a taxa de 11%, não está certo falar que é 44%, porque os juros são compostos, então o correto é: 51,80%
Bom, até aqui conseguimos explicar todos os conceitos necessários, vamos as contas de como otimizar os resultados!
Se hoje a taxa de juros para 4 anos está por exemplo em 11% ao ano, quanto vale um título de R$100.000, hoje? Como são juros compostos, o valor do juros acumulado do período é de 51,80%. Esse título vale hoje R$65.873,10,
Vamos explicar mais uma vez para ficar claro.
Investidor A, comprou um título com vencimento de 4 anos a uma taxa de 11% ao ano, equivalente a 51,80% em todo período. O valor de cada cota do título é hoje de R$65.873,10. Com esse valor aplicado, o banco pagará no vencimento o montante de R$100.000,00.
Se ao longo desse período a taxa nunca mudar, continuar sempre em 11% podemos fazer uma projeção linear. A cada mês o investidor verá seu saldo aumentar 0,8735% ou R$575,43.

Mas estamos falando de Brasil e se podemos ter uma certeza do futuro é que a taxa de juros vai mudar, para cima ou para baixo, mas vai mudar.
Então vamos avaliar agora um exemplo onde o juros futuro caia (o que estamos projetando para daqui em diante)
Nosso investidor A, acabou de aplicar o seu dinheiro a uma taxa de juros de 11% a.a. e no dia seguinte o juros caiu para 9%, o que acontece?
Lembre-se o valor final do título nunca irá mudar. Não importa o que aconteça com a taxa de juros, no vencimento o título valerá R$100.000, mas no meio do caminho esse valor irá oscilar.
Convertendo a taxa de 9% a.a. para o período de 4 anos temos, 41,15% isso quer dizer que o investidor A, viu seu título recém adquirido a um valor de R$65.873,10 subir para R$70.842,52 porque esse novo valor aplicado a uma taxa de 41,15% até o vencimento equivale a valor do título de R$100.000,00
Entenda que o título não mudou de preço, mas a taxa de desconto para o valor presente diminuiu, logo o valor subiu para compensar uma taxa menor.
Em um título de CDB é normal você não ver essa movimentação brusca para cima ou para baixo, isso porque chamamos que esse ajuste de preço é marcação a mercado. O banco ao pegar o seu dinheiro não tem como recomprar o título agora. Você aplicou e ele emprestou para outra pessoa pagar esse juros, então na prática, o que acontece é outro investidor comprar o título de você. Por isso o nome, marcação a mercado. Na prática é quanto seu título está valendo hoje para um novo investidor. Já o banco para evitar que seu saldo mude o tempo todo, só te passa essa informação caso você queira vender antes do prazo, ou seja, você vai ver sempre a marcação na curva, que é o seu valor subindo de forma linear até o vencimento.
Nesse exemplo ficou claro que o investidor A, teve uma valorização muito alta quando ele investiu em um título prefixado e no meio do caminho a taxa caiu. Se ele carregar até o final, o prêmio será o combinado, os 11%, mas quando o juros cai de 11% para 9% no dia seguinte, o lucro da aplicação foi de R$ 4.970,47 ou 7,54%. Mas porque foi um lucro tão grande em tão pouco tempo? Porque a partir de agora, o título vai render 9% e toda a diferença entre 11% e 9% receberá agora, quando o juros muda.
Interessante isso não é mesmo? Bom esse é um exemplo de como você pode aproveitar a queda de juros que virá pela frente que o mercado tanto anseia.
A curva na prática já está caindo, o Banco Central está sendo pressionado por todos os lados e irá ajustar a SELIC de acordo com o mercado, já entendemos como essa dinâmica funciona nesse artigo. E você, está esperando o que para aproveitar essa oportunidade?
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