Café Econômico

‘Superquarta’ e Efeito Meirelles

Política

No campo político, temos apenas as pesquisas que ainda mostram o favoritismo de Lula com 44% das intensões de voto, enquanto Bolsonaro fica com 34%.

Lula desistiu de participar do debate que será promovido pelo SBT no próximo sábado, mas os integrantes da sua campanha  disseram que ele deve ir ao debate da Globo na 5ª feira da semana que vem, dia 29/09, três dias antes das eleições.

‘Superquarta’: dia de FED e Copom no ajuste dos juros

Temos hoje a decisão do COPOM para a taxa Selic, que deve subir de 13,75% para 14%. Campos Neto, presidente do BC, ainda reitera o fato de que os juros permanecerão altos por mais tempo, até meados do primeiro semestre de 2023.

O Banco Central não quer correr o risco de passar uma mensagem errada, de que, logo aos primeiros sinais de alívio dos preços já haverá um relaxamento da contração econômica. Até porque a deflação do IPCA tem caráter artificial das isenções tributárias que valem somente para 2022.

Não é porque o ciclo de alta dos juros acabou que os cortes irão começar!

Já Paulo Guedes, ministro da economia, faz discurso diferente e fica dourando a pílula na economia brasileira.

Ontem, em evento da Abras, ele disse que “ano que vem, vamos estar com o freio de mão solto (na política monetária)”, porque o COPOM foi o primeiro a se mover.

Um dia depois de ter dito que o BC errou ao falar o tempo todo em risco fiscal, o ministro afirmou que o BC trabalhou certo ao longo da crise econômica, acordou antes e estamos travando a inflação.

Ainda destacou que o Brasil está crescendo 2,6% neste ano e que a taxa de desemprego deve cair até 8%. Guedes culpou o teto de gastos mal construído por Henrique Meirelles dizendo que a regra estava impendido o Brasil de crescer e que furou o teto para a população sobreviver.

Antecipou também que as contas do Governo Central devem apresentar superávit primário este ano pela primeira vez, desde 2013.

Na esfera internacional, o que temos de mais importante hoje é a decisão do FOMC em relação ao juros nos EUA. A expectativa é que a taxa suba mais 0,75%, qualquer ajuste superior a esse será uma surpresa negativa para o mercado.

As projeções já precificam um juros terminal na faixa de 4,25% e 4,50% pela maioria dos investidores. Outros, apostam em um juro mais baixo, entre 4,0% e 4,25%.

De qualquer forma, é difícil imaginar um cenário diferente desses, em que Powell mude o discurso que deu em Jackson Hole, quando confirmou o compromisso com a meta de inflação e condicionou o ritmo de aperto monetário aos outros indicadores econômicos.

A inflação lá nos EUA vem decepcionando o mercado, há 3 meses vem acima do consenso, o que revela uma pressão persistente nos preços, o que fará os juros nos EUA permanecerem altos por um tempo.

O reflexo desses movimentos de inflação e de juros inevitavelmente causam danos sociais, a prova disso é o aumento do desemprego. Inclusive hoje terá revisão da taxa de desemprego nos EUA, que deve subir para 4,5%. Isso mostra que essa política de imprimir dinheiro gera consequências graves e imprevisíveis em toda a sociedade.

Bolsa descola do cenário internacional e fecha em alta

Longe de sofrer junto com NY na véspera do FED, o IBOVESPA deu uma demonstração de resistência, com: bolsa em alta e dólar em queda, blindado pelo fluxo estrangeiro e pelo “efeito Meirelles”

O IBOV subiu 0,62% aos 112.516 pontos com um volume de R$26,7 bilhões.

Henrique Meirelles, ex-presidente do BC, foi cortejado pelo PT e ficou administrando expectativas mais positivas para o Brasil. O que o mercado está entendendo é: o Lula deve levar as eleições, mas se o Meirelles estiver com ele, teremos um maior rigor fiscal.

O banco Santander, está otimista com a bolsa e projetou em relatório que o IBOV deve atingir 140 mil pontos até o final do ano que vem, alta de mais de 25% em relação ao preço atual, acreditando que o mercado pode precificar cortes na Selic mais cedo, se a inflação ceder mais rápido.

Ontem, o IBOV desprezou as perdas das Blue Chips das commodities, como VALE e PETROBRAS e seguiu firme em alta.

Os bancos foram os que mais subiram, surfando esse sentimento de Meirelles, já que durante os governos do Lula os bancos ganharam muito dinheiro.

O pior performance ficou com Materiais Básicos, que sentiu a queda de mais de 4% do minério ontem e fez as ações caírem junto. A China está demorando para lançar um pacote de estímulos enquanto sua economia enfraquece a cada dia, o que dá uma menor expectativa de crescimento desse setor.

Dólar de olho no fluxo e no efeito Meirelles.

Já o dólar, com resquícios também do efeito Meirelles, estendeu o movimento de baixa na contramão da alta generalizada no resto do mundo.

O câmbio também recebeu ajusta do fluxo estrangeiro, positivo em R$1,44 bilhão em apenas 1 dia. No fechamento, o dólar ficou com queda de 0,25% cotado a R$5,15.

O Dólar tem sido um fator decisivo para o movimento dos mercados, pois ele atua como um agente inflacionário ou deflacionário. Se o dólar sobe, as commodities ficam mais caras, pois todas são cotadas no mercado internacional. Dessa forma, os preços em reais sobem e a população começa a pagar mais caro pelos alimentos, combustíveis e energia em geral, o que faz a nossa inflação subir.

Se a inflação sobe, o Banco Central brasileiro é obrigado a manter os juros mais altos para desestimular o consumo e trazer a inflação de volta para baixo. Juros mais altos corroem o poder de compra das pessoas, e faz com que setores como Consumo, Imobiliário, Varejo e Tecnologia fiquem menos atrativos para investimentos em bolsa.

Além disso, o dólar tem se mostrando muito forte no mercado internacional com a alta dos juros nos EUA. O próprio Euro já perdeu novamente a paridade, cotado a US$0,9975, e as bolsas estão mostrando que não deve existir “pouso suave”, tendo bastante espaço para quedas caso a economia americana permaneça em recessão.

Bom, dando uma olhada em todo o cenário atual, nós temos uma Bolsa que está sendo negociada aproximadamente 12% abaixo da sua média histórica. Se a gente pegar o Lucro Projetado as ações do IBOVESPA e compara com o preço atual das empresas, nunca estivemos tão barato!

Estamos mais barato que 2008, que 2016 e que 2022.

Os indicadores econômicos brasileiros, mesmo que com as distorções, não estão tão ruins quanto a mídia fala. Somos o único país no mundo que está apresentando crescimento real em 2022. Dava pra ser muito melhor se o governo não atrapalhasse, mas como investidores, existem momentos em que precisamos sair de dentro da bolha e olhar por fora.

O Brasil está barato! O investidor estrangeiro não colocou na B3 87 bilhões de reais em 9 meses à toa!

Se você for seletivo nas escolhas e paciente, você vai ter resultado. Particularmente, acredito bastante no que o Santander disse no relatório. Historicamente o mercado começa a precificar mudanças nos juros muito antes do BC. E mais! O próprio BC geralmente faz alterações nos juros antes do que ele mesmo havia estimado.

A bolsa subiu bastante já, saiu dos 96 mil pontos para 114 mil, e deve ficar consolidada entre os 108 e 114. Mas mirando 2024, ainda tem muito espaço para subir independente de eleições.

Se você tem medo de bolsa por causa da política, e faz todo sentido, proteja seu capital. Seja com investimentos dolarizados, o que não parece ser uma boa opção agora, seja com a renda fixa pagando juros muito elevados. Mas não ter exposição em bolsa nos patamares atuais é insanidade para um investidor de verdade.

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